Morador do Sítio Malhada Grande, no município de Santana do Matos, na Região do Sertão Central, Rafael da Silva Cunha, é exemplo para milhares de jovens que vivem em comunidade rurais. Com apenas 16 anos, conquistou uma vaga no curso de licenciatura em Computação e Informática na Universidade Federal Rural do Semi-Árido, no campus de Angicos. Rafael Cunha também é exemplo quando o assunto é acesso e a permanência de estudantes de camadas populares na universidade.
Proveniente de escola pública, o jovem participou do cursinho pré-universitário promovido no ano passado pela UFERSA Angicos, por meio do Programa Conexões de Saberes, na Escola Estadual Francisco Veras. “Entrar na universidade é um sonho que realizei mesmo diante de muitas dificuldades por residir na zona rural”, reconhece Rafael, que hoje é um dos bolsistas do Programa PET Conexões Linguagem, coordenado pela professora Ady Canário.
O estudante, que também é poeta cordelista, expressou a sua vivencia no PET Conexões, recitando um poema para os participantes do III Seminário de Integração do PET Conexões Linguagem, realizado no Auditório da UFERSA Angicos. “A nossa proposta é promover o debate sobre a importância do acesso e a permanência dos estudantes de comunidades rurais na universidade quando as estatísticas apontam que apenas 2% da população de cor negra conseguem ingressar no ensino superior”, resume a professora Ady Canário.
Natural de Afonso Bezerra, o estudante de Ciência e Tecnologia, Edivanilson Jackson da Silva, é outro exemplo. Vindo de escola pública, o universitário reconhecer a importância do PET Conexões para se manter na Universidade. “O Programa me ajuda muito e a minha meta é poder concluir o curso”, afirmou. Segundo Edivanilson a implantação da UFERSA em Angicos facilitou o acesso dele a universidade.
AFRORRURAIS – O Seminário contou também com a participação do professor da UERN, Dr. João Freire Rodrigues e, do deputado estadual, Fernando Mineiro, que abordaram o tema As políticas Públicas Afrorrurais. “O PET também foi importante na minha trajetória acadêmica e para mim é de grande importância poder compartilhar essa experiência com os estudantes da UFERSA Angicos”, expressou João Rodrigues. Para o professor, um programa como o PET representa um complemento ao curso de graduação.
No Brasil, afirmou o palestrante, ainda são muitas as dificuldades para os jovens da zona rural ingressar na universidade. Classificada como área destinada à agricultura, a zona rural também reflete uma realidade de carência no que diz respeito ao acesso de bens e serviços – educação, saúde, saneamento. “A carência desses serviços prejudica no exercício da cidadania da população que mora no campo”, ressaltou. Ainda segundo o professor, a situação é mais grave quando se trata de comunidades quilombolas ou de remanescentes de negros e índios.
“Trazer a questão afrorrurais, um tema esquecido pela academia, por meio do Programa PET Conexões é muito importante. É uma iniciativa inédita essa discussão no interior do Estado”, considerou o deputado, Fernando Mineiro. Na sua explanação para os universitários, Mineiro reconheceu a situação de abandono vivenciado pelas comunidades quilombolas no Rio Grande do Norte.
“A relação que o poder público tem com essas comunidades é de folclorização”, pontuou. Ainda segundo o deputado, as comunidades afrorrurais continuam “pobres, abandonadas e invisíveis”. “Os números da desigualdade brasileira têm cor e gênero”, ressaltou ao justificar a forte discriminação racial existente com a população pobre e negra.
Ainda segundo Fernando Mineiro, mesmo com a duplicação no número de comunidades remanescentes de quilombolas identificadas e reconhecidas, que passou de 21, no ano 2000, para 44, em 2011, a questão racial continua diluída na sociedade. “A titularização da terra e a implementação da Lei 10.639 são conquistas ainda não concretizadas pela maior parte da população afrodescendente”, lembrou o deputado.